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TEMA: A LENDA DO ÁRABE QUE SALVOU O MENINO JESUS

Esse texto é de autoria de Malba Taham, cujo nome verdadeiro era Julio César de Melo e Souza, nascido em 1895 e falecido em 1974. Era brasileiro, carioca, escritor, engenheiro e professor de Matemática. 

          

A LENDA DO ÁRABE QUE SALVOU O MENINO JESUS

(Autor: Malba Tahan – Julio César de Melo e Souza)

 Há uma lenda que diz que o Jesus foi salvo por um árabe. De acordo com a tradição foi um árabe de Jafa, homem simples e bondoso, que proporcionou recursos à Santa Família, a fim de que o Divino Infante e seus Pais pudessem escapar às ameaças sinistras de Herodes, o Grande, e procurar refúgio nas terras do Egito. Existe, realmente uma lenda, apresentada a seguir.

“Quando os cristãos, de Chipre, ouviram a estranha notícia de que Tito, o bispo escolhido por Paulo, o consagrado chefe da Igreja, planejava uma longa e penosa viagem ao Egito, ficaram assombrados.

- Que pretenderia Tito, o bom cristão, com aquela viagem ao país dos idólatras? Estaria, certamente, naquela terra distante, sujeito a mil perigos no meio dos aventureiros pagãos!

Certo de que poderia, em poucas palavras, justificar os objetivos de sua viagem, reuniu Tito os seus companheiros e auxiliares da Igreja e fez-lhes uma surpreendente revelação:

- Algo muito estranho ocorreu comigo. Foi um sonho. Sim, um sonho e nada mais. Sonhei que me achava em terras do Oriente e vi um árabe, no seu pisar vagaroso, em longa estrada do deserto, carregando no colo o Menino Jesus. Sim, asseguro que não me enganei. Não era uma criança qualquer: era o próprio Menino Jesus. E o Divino Infante olhava com alegria para o árabe e sorria com meiguice. Um árabe no deserto, tendo em seus braços o Filho de Maria, o Salvador do Mundo! Era incrível! Acerquei-me do árabe, toquei-lhe, de leve, no ombro forte e interroguei-o: - “Qual é o teu nome? Que pretendes fazer com esse menino?” O árabe voltou-se para mim, parou um instante e respondeu-me, com a serenidade de um justo: - “Nada temas, ó cristão! Nada temas. Chamo-me Kazan, o Quebir! Sou o chefe da caravana! Quero amparar este Menino! Quero tornar tranqüila e feliz a jornada que vai fazer pelo deserto!”

Na confusão daquele sonho, olhei em redor de mim e avistei extensa caravana de mercadores sírios, judeus, gregos e egípcios. Agitavam-se todos, de um lado para o outro, ultimando os preparativos para a partida. Os cameleiros gritavam: - “A caravana vai partir! A caravana vai partir!” Chegava, aos meus ouvidos, um ecoar surdo de vozes roucas. Nesse momento um beduíno de turbante negro, com uma longa corda na mão, puxou-me, com violência, pelo braço e advertiu-me em tom rude: - “Tranqüiliza-te, cristão! Tranqüiliza-te! O Menino está bem seguro nas mãos de nosso Quebir! Tudo se cumprirá como está escrito!” Com o golpe violento do beduíno, acordei. Que sonho estranho!

- Estranho sonho - repetiu o jovem Acilino, o auxiliar predileto de Tito - Cristo carregado, no colo, por um árabe! Um caravaneiro pagão protegendo, amparando, o Menino Jesus! Que significação terá esse sonho do nosso mestre?

- Não sei, meu caro Acilino, volveu Tito em tom grave e com um certo olhar de inquietação – Envolvem os sonhos mistérios que são inatingíveis para a  nossa inteligência. O certo seria esquecer esse sonho. Mas não posso e não devo proceder assim. E direi a razão. Hoje, pela manhã, ao atravessar a praça, encontrei, casualmente, dois mercadores sírios de Damieta, no Egito. Eu os conhecera em Damasco. Contei a esses mercadores o meu sonho. E deles ouvi a mais estranha e surpreendente revelação: em Damieta vive, realmente, um árabe, muito estimado pelo povo, querido de toda a gente, que se chama Kazan, o Quebir. Quando moço foi quebir, isto é, chefe de caravanas e centenas de vezes jornadeou pelo deserto, andou pela Judéia, percorreu várias cidades de Israel.

E, depois de pequena pausa, Tito declarou:

- Abalou-me esse traço de realidade que reponta no meu sonho. Estou, portanto, resolvido a ir até Damieta. Quero apurar tudo. Não teria havido, no caso, uma simples coincidência de nomes? Partirei amanhã, ao romper do dia, numa galera Síria, que transporta vinho e tecidos. Levarei Acilino em minha companhia.

E o prestigioso bispo, da Igreja de Chipre, partiu para a Terra do Nilo, o país das lendas e dos mistérios.

Logo que desceram na pitoresca cidade de Damieta, viram-se os dois cristãos cercados de mercadores e aventureiros de todos os recantos do mundo. Dirigiu-se Acilino à uma florista grega e perguntou-lhe:

- Conhece aqui, em Damieta, um árabe chamado Kazan, o Quebir? Onde mora?

A florista respondeu:

- Conheço muito bem. É meu amigo. Dele tenho recebido muitos presentes. Mora ao lado de Mezaleh, para além da Casa dos Patos.

Seguindo as indicações da florista, Tito e Acilino foram ter ao modesto recanto em que vivia o velho Kazan, que os egípcios apelidaram de “O Quebir”.

A casa do árabe ficava junto ao lago, em terreno arenoso, no meio de pequeno bosque de palmeiras.

Recebeu-os Kazan, com muita simpatia. Vivia só. Ganhava a vida consertando as redes dos pescadores e criando patos que vendia no mercado nos dias de feira. Era um homem alto, de aparência forte, mas já bastante idoso. Tinha as barbas grisalhas, mas os seus cabelos eram totalmente brancos.

Ao perceber que seus visitantes eram cipriotas, o árabe saudou-os no idioma grego.

- É espantoso – comentou Tito, com certo enlevo – Esse homem conhece bem o grego. Fala com surpreendente correção!

- Nada há de extraordinário – volveu, com naturalidade, o ancião. Vivi dois anos em Atenas; estive também em Creta e em Chipre.

E depois de fazer com que seus hóspedes se sentassem em pequenos bancos de bambu, tornou em tom delicado:

- A que devo a honra dessa visita?

Ia se revelar o mistério do caso. O bispo de Chipre tomou da palavra e falou sem rodeios:

- Nada de importante. Viemos, como já disse, de Chipre e chegamos hoje pela manhã. Sinto-me preocupado com um sonho, cujo sentido desejo esclarecer. Quero que nos responda, apenas, a uma pergunta: Sei que exerceste, durante muitos anos, a profissão de quebir, isto é, de guia de caravanas. Lembra-te de teres, algum dia, antes da partida de uma caravana, carregado ao colo um menino que vinha para o Egito?

O árabe sorriu orgulhoso:

- Ora...ora, meu amigo... Como poderei responder? Muitas e muitas vezes, nas tendas do deserto, ou sob o vento nas noites frias, carreguei crianças ao colo! Umas sadias e alegres, outras tristes e enfermas...Era o meu dever...

- Não se trata, porém, de uma criança qualquer – revidou Tito, muito sério – Escuta-me, ó Quebir! Escuta-me! Pergunto se algum dia carregaste ao colo um menino, não árabe, que vinha da Palestina para o Egito, em companhia de seus pais, ambos judeus? É isso, só isso o que eu desejo saber!

O velho caravaneiro passou a mão pela testa, meditou um rápido instante e respondeu:

- Ah! Recordo-me, perfeitamente, desse episódio! Já lá se vão muitos anos. Foi no reinado de Herodes, o Grande. Muita gente fugia para o Egito. Nesse tempo eu era muito moço e dirigia as caravanas de Jafa, até uma pequena aldeia, chamada Tinch, não muito longe de Damieta. Preocupava-me muito com a segurança dos que confiavam em mim. Pouco antes da caravana partir, eu passava em revista os viajantes para ver se tudo estava em ordem, se não faltava nada! Certa tarde, no momento da partida, notei que havia uma pequena família (Pai, Mãe e Filho) que não dispunha de camelo para a longa jornada de Jafa até o Egito. Pretendiam fazer a longa viagem num burrinho cinzento. Vejam só, num burrinho! Seria impossível! O tal burrinho não poderia resistir. Chamei o chefe da família e disse-lhe: - “Nesse burrinho não conseguirá o Senhor chegar ao fim da viagem. Sua esposa e seu filhinho não poderão resistir. Morrerão, com certeza. As noites, no deserto, são frias e a caravana, em muitos casos, é forçada a enfrentar os ventos fortes nos areais de El-Tih. E vendo que ele era pobre e sem amparo, resolvi ajudá-lo. Cedi o meu camelo. Sim, não havia outra solução. Acomodei-me no camelo do meu ajudante e entreguei o meu camelo, que era forte e manso, aos três viajantes palestinenses. Aconselhei que vendessem o burrinho e comprassem agasalho para a criança. E eles assim o fizeram. Para ajudá-los, carreguei o menino no colo, e eu mesmo acomodei-o no camelo. Lembro-me, muito bem. Era uma criança loura, de rara beleza. Devia ter  dois ou três anos.

- E essa família vinha da Judéia? – perguntou Acilino.

Respondeu o árabe:

- A jovem Mãe, cuja fisionomia irradiava imensa simpatia e bondade, contou-me que, receosos de um inimigo (cujo nome não revelou) haviam deixado a pequenina aldeia de Belém e que pretendiam passar alguns anos no Egito. Informado disso trouxe-os com o maior cuidado até esta terra hospitaleira e aqui viveram vários anos em paz e segurança. Eu os auxiliava sempre que podia, pois era gente simples e boa. Voltaram, mais tarde, para o país de Israel e nunca mais tive notícia do lindo menino que carreguei no colo!

Ao ouvir aquele extraordinário relato, Tito ergueu-se, abraçou o velho árabe  e disse, emocionado:

- Com o teu ato de pura bondade, ó Quebir, praticaste uma das ações mais gloriosas na História do Mundo! O Menino por ti amparado era Jesus, Nosso Senhor! Colaboraste para a redenção e salvação dos homens! Que o teu nome seja apontado à gratidão de todos os cristãos e que tua alma seja incluída entre os eleitos de Deus! Eu te abençôo em nome de Paulo, o apóstolo do Mestre! Eu te abençôo, ó Quebir! 


 

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